Brasil: Mais de 500 - Igreja católica no Brasil pede perdão
Além das comemorações que estão acompanhando o "Brasil 500 anos", esse momento deve ser também, uma oportunidade de reflexão histórica, principalmente por parte de setores que nesses 5 séculos se fortaleceram, em detrimento da maioria da população, ontem indígena, negra-escrava e hoje representada por uma imensa camada de miseráveis e excluídos da "democracia" e do "Estado de Direito".
Uma das principais instituições ao longo de nossa história é a Igreja Católica. Presente no Brasil desde os primórdios do período colonial, a Igreja quase sempre esteve ao lado do poder, quer na Colônia, no Império ou na República. Os primeiros representantes da Igreja Católica, os padres jesuítas, chegaram ao Brasil em 1549, com o primeiro Governador Geral, Tomé deSouza, e fundaram o primeiro bispado na cidade de Salvador, então capital da colônia. A expansão da Igreja acompanhou a própria expansão da colonização na medida em que, a cada nova Vila fundada, uma capela era erguida. No entanto, a principal ação dos jesuítas deu-se frente aos indígenas, que deveriam ser catequisados como parte do movimento de Contra Reforma, que seguindo as decisões do Concílio de Trento, procurava expandir o catolicismo para os vários povos de todos os continentes. A ação de catequese junto aos índios foi possível na medida em que a Igreja de Roma havia chegado a conclusão de que os silvícolas possuíam alma, portanto poderiam ser salvos.
A partir de então, os jesuítas preocuparam-se em levar aos povos indígenas os ensinamentos cristãos e para isso foram organizadas as missões ( ou reduções) onde os indígenas aprendiam a língua portuguesa, os costumes e a moral católica, aprendiam ainda a trabalhar com os instrumentos trazidos pela nova cultura, apresentada como superior e responsável pela desagregação de várias tribos.
A força e influência política dos jesuítas e os interesses no tráfico de escravos negros, fez com que o Estado proibisse a escravidão indígena, permanecendo porém essa possibilidade a partir da "guerra justa", responsável pela escravidão do índio, mesmo que em menor número quando comparado com a escravidão negra.
A presença do jesuíta também teve grande importância nas cidades coloniais, onde as poucas escolas que existiam eram controladas por eles. Dessa forma, os filhos dos fazendeiros eram educados pelos padres e em parte essa situação reproduzia o que ocorria na metrópole, homens que ocupariam cargos públicos, explicando a atitude do Marquês de Pombal em 1759, que expulsou os jesuítas de Portugal e de todas as suas colônias.
Durante o Primeiro Reinado (governo de D. Pedro I entre 1822 e 1831), a Constituição outorgada de 1824, determinou o catolicismo como religião oficial, ou seja, imposta e controlada pelo Estado, sendo que esta situação foi mantida até a Proclamação da República.
No dia 20 de março o jornal Folha de São Paulo conseguiu uma cópia de um documento guardado sob sigilo pela Igreja Católica no Brasil. Trata-se de uma carta de 21 páginas que circula desde o começo de março entre os bispos que formam o episcopado brasileiro. A carta contém a intenção da Igreja em se desculpar publicamente pelos "erros do passado" e pelas "faltas do presente".
Por tratar-se ainda de um anteprojeto, não existe uma divulgação oficial. O texto conduzirá as discussões da próxima assembléia geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), marcada para o final de abril em Porto Seguro. Da assembléia sairá o texto final que apresentará uma análise dos 500 anos de evangelização.
No documento, a Igreja já anunciou que pedirá perdão pelos abusos cometidos contra os índios durante o período colonial, além de reconhecer sua própria omissão no combate à escravização dos negros.
A novidade do texto, é um conjunto de 11 páginas reservadas para uma análise do Brasil no final do século XX, colocando a comunidade católica como co-responsável pela desigualdade social e violência nos dias de hoje. Sobre esse tema, o texto afirma que nos anos 80 o Brasil poderia ter superado o modelo que "favoreceu o lucro e o esbanjamento de uma minoria", tendo contudo ocorrido o contrário, com o aumento da distância entre o povo e a classe política. O Estado, divorciado dos cidadãos, não conseguiu "garantir a segurança contra a violência e agressões". A mídia, "particularmente a televisão", aproveitou-se dessa lacuna, tornando-se cada vez mais poderosa.
A carta critica também a "mentalidade individualista e hegemônica, aliada ao culto da eficiência e da produtividade". Tal visão induziu um comportamento que transformou "a preocupação de ganhar dinheiro em valor supremo", provocando "o enfraquecimento da ética no exercício das profissões e na gestão dos recursos públicos".
Em outro trecho, o documento ataca o preconceito que as mulheres ainda enfrentam na sociedade brasileira, denunciando a violência doméstica e as diferenças salariais entre os sexos, mas omite por outro lado, a postura do Vaticano em proibir a ordenação feminina.
Apesar de elaborado pela ala progressista do clero, aquela que acredita nos princípios cristãos como meios para justiça social, o documento exclui dois problemas: as perseguições aos judeus nos séculos XVI, XVII e XVIII, e a intolerância de parte do clero pelos homossexuais. O texto do documento é finalizado com um apelo à preservação do meio ambiente.
O Legado Romano
O LEGADO ROMANO PARA O OCIDENTE
Por Volnei Neto
De forma consensual encontramos na historiografia atual toda uma cadeia de processos que construíram as bases da idade média e como a decadência do império romano do ocidente contribuiu para essa construção. Tentaremos neste texto explicar, baseado em uma análise interpretativa da obra: Origens da Idade Média de William Carroil Bark, entender como a fase final de Roma influenciou todo o período medieval que o seguiu.
Constituímos, em geral, uma idéia de surgimento da idade média, como sendo a decadência da civilização, representada na figura do império romano e com isso o surgimento de um tempo marcado pela “retração civilizatória” do mundo em meados do século V.

Entretanto o que devemos nos perguntar é em que situação o império se encontrava? Quais as causas que o levaram a uma situação de decadência em que ele estava submetido entre o final do século II e o inicio do século IV? E por final o que as medidas tomadas no campo social, político, econômico, pelos imperadores influenciaram no futuro de Roma?
Ao tentar responder estes questionamentos é que iremos desenvolver uma analise querente e nós perguntarmos mais uma vez, se a Idade Média não foi a melhor saída para o caos que se instalara na Europa, pois “a regressão da civilização do ocidente, partindo do nível romano foi uma ocorrência feliz” .
Grande parte do mundo durante o final do século II se encontrava dominado pelo império romano, que nesta época possuía a sua maior extensão, entretanto a situação política em que se encontrava não era de grande estabilidade.
A morte de Marcus Aurelius Commodus Antoninus, mais vulgarmente chamado, apenas, de Cómodo marca o fim da idade dos antoninos, dando inicio a um período de incertezas e grande crise em todo o império. Após a breve dinastia dos severos em que houve um substancial aumento nos conflitos com os bárbaros e problemas com a sucessão dos imperadores, viu-se o império entrar pelo século III em varias guerras civis, travadas entre os pretendentes ao trono romano, que em sua maioria eram generais dos exércitos, constituindo assim uma série de governantes de uma anarquia militar. Com essa crise instalada, podemos dizer que “ela destruiu as bases da vida econômica, social e intelectual do mundo antigo”.
Em 285 d.C. surge a figura de Diocleciano considerado um dos grandes reformadores do império romano juntamente com Constantino, que se tornou imperador tempos depois.
A política exercida por esses reformadores, ao mesmo tempo em que permitiu um maior controle do estado, sobre ele mesmo e sobre seus invasores, o dividindo em regiões administrativas, formando uma tetrarquia e separando o oriente do ocidente. Também instituiu uma forma de governo baseado na opressão de todos que viviam em seu território. Criando leis que posteriormente constituiriam os alicerceis para o surgimento da Idade Média.
“A unidade política e a centralização que nos séculos posteriores, medievais, eram inteiramente impossíveis, já começavam a desaparecer das partes do império localizadas na Europa ocidental em fins do séc.III, e o caminho estava preparado para os reinos medievais e o lento processo de adaptação, chamado feudalismo” .
Outro fator importante que se deu na política dessa época foi a adoção do cristianismo por Constantino que não podia mais negar a força que a religião cristã se tomou dentro do império, fazendo assim com que o os motivos para manter a unidade romana mudasse de foco. “Permitindo substituir a unidade política romana pela unidade religiosa cristã” .
As mudanças políticas introduzidas em todo esse período não podem ser pensadas se não em conjunto com as mudanças sócias e econômicas que as mesmas causaram.
Com a separação do império em ocidental e oriental verificamos que houve o estabelecimento de uma crescente desigualdade entre as duas partes. Já verificada que as maiores cidades estavam no lado oriental e a grande concentração do ouro de todo império também fazia parte do oriente. Por outro lado o ocidente estava sofrendo cada vez mais com os bárbaros e com as modificações políticas impostas desde Diocleciano. “As destruições provocadas pelas guerras civis e invasões do séc. III de nossa era parecem ter sido particularmente severas na Gália, sem dúvidas porque esta era uma das mais ricas e economicamente mais produtivas partes do ocidente e, portanto a mais vulnerável” .

Com o lado ocidental bastante afetado economicamente podemos notar que a economia natural passou a ter um caráter cada vez mais efetivo na vida do cidadão romano, tirando de forma intensa, mais não total, o foco da economia baseada no ouro. Não que o império nunca tivesse experimentado esse tipo de economia, podemos ate dizer que a construção econômica do império oscilava entre os dois tipos, mais não tanto quanto agora.
O oriente estava mais bem adaptado à nova realidade imposta pelas reformas e de certa forma mantendo-se em pé. Porém vale salientar que “é sabido que Constantinopla escapou a captura varias vezes, em parte pelo suborno dos prováveis atacantes com ouro, ao passo que o ocidente tinha que vencer tais dificuldades sem essa vantagem... O Oriente podia comprar a proteção com o dinheiro, o Ocidente, mais pobre não podia, e por isso sofreu o que o primeiro evitou” .
Um dos fatos, mas marcantes nas reformas estabelecidas pelo império, foi à dura imposição na criação de impostos e as medidas atreladas ao aparelho estatal para garantir seu recebimento. Com as crescentes invasões bárbaras e um aumento na cobrança dos impostos o povo estava saindo do império, para conter este êxodo, foram estabelecidos artifícios legais que fixavam o homem a terra e as cidades, transformando as atividades tanto urbanas quanto rurais em funções hereditária, criando assim um sistema de castas. Com essa violenta supressão da liberdade individual, o homem livre da época se transformou em servo do Estado. Surgia a servidão. Os ideais greco-romanos de uma comunidade de cidadãos livres desapareceram.
Voltando ao campo economico e a questão do cerscente desenvolvimento da economia natural, observamos que ela se baseia na auto-suficiencia, no comercio de trocas e agora , para infelicidade do estado, no pagamento de impostos.
“Assim, apesar das reformas de Diocleciano e Constantino, o movimento de repulsão a economia monetária não podia ser detido e o imposto sobre a terra era frequentemente pago in natura” .
Diante desta crescente opressão, onde os colonos não tinham mais capacidade de produzir nada além do que lhes era suficiente para pagar os impostos, observamos, mais uma vez, que a estrutura que se montava era em direção de uma total derrocada do lado ocidental. Isso fica evidente nas palavras de William Carroil Bark, quando ele diz que: “o estado era incapaz de ajudar o fazendeiro independente pelas quais, ele, como o colonus, tinha poucas soluções a sua frente... Para homens que tinham família, até mesmo a fuga para o banditismo estava fora de cogitação. De qualquer forma, o que ocorreu é evidente: um número cada vez maior de agricultores em dificuldades aceitava a proteção de potentados feudalistas capazes de desafiar o estado, e com isso praticamente se vendiam a servidão” .
Evidenciamos mais uma vez um grande indicativo na direção de uma grande mudança social, que notadamente esta relacionada a extinção de uma classe média, o desaparecimento das pequenas propriedades, compradas pelos grandes latifundiários e o grande aumento do poder da aristocracia agrária.
Diante de tantas causas e conseqüência, encontradas para dar sustentação ao surgimento das características que compunham o momento de transição entre o fim do império romano e o início da idade média, podemos agora tentar refutar a afirmação feita no inicio do texto, em que dizemos que a única saída para Roma é a Idade Medieval.
Isso fica claro quando analiticamente verificamos que não foi o feudalismo que construiu uma sociedade relativamente pobre, esfacelada, sem unidade e de base agrárias, mais sim podemos indicar como criador dessa realidade o império romano, que dentro do seu espirilo belicista e conquistador não teve o cuidado e destreza necessária com seu povo e os povos conquistados, os tratando de forma violenta e opressora, fazendo com que as estruturas sócias, políticas e econômicas se fundissem na realidade medieval.
Entretanto o que fica claro é que todas essas mudanças causaram, segundo as palavras de Rostovtzeff, “uma lenta e gradual modificação, uma transferência de valores na consciência dos homens” fazendo com a mudança se tornasse estrutural e não parte de uma mera conjuntura.
Vemos ai como a liderança romana no ocidente foi se deteriorando ao mesmo tempo em que produziu seu legado para o futuro.
Cleópatra, a rainha do Egito
Por CRISTIANO CATARIN
Cleópatra, a rainha grega do Egito. Provavelmente tudo que o mundo sabe sobre ela esteja errado. Muitas versões a descrevem como uma mulher fatal e de rara beleza. Alguns relatos valorizam, com certo exagero, a questão estética da jovem rainha. Quem era a verdadeira Cleópatra?
Trezentos anos antes de Cleópatra governar o país mais rico do mundo, Alexandre, o grande, tinha acabado de conquistar o Egito. Desejoso de ser considerado uma divindade, o comandante militar dirigiu-se ao templo de Siwa – onde fora proclamado um deus pelo oráculo. Alexandre conquistou o maior império de toda história, dominando terras que iam da Europa a Índia. Cleópatra certamente inspirou seus objetivos, sobretudo políticos, as façanhas alcançadas por Alexandre, o maior líder militar que o mundo já conheceu. Ela era ambiciosa, determinada e inteligente, mas sua aparência não era de uma mulher fatal (veja a ilustração acima).
Origem e família da jovem rainha
Cleópatra era descendente dos reis gregos do Egito, os ptolomáicos. Ela nasceu em Alexandria. Seus cabelos eram avermelhados, a ilustração acima não mostra a rainha utilizando-se de jóias. Definitivamente, estas não são características de uma mulher fatal. Por outro lado, uma harmoniosa combinação de: espiritualidade, determinação e inteligência tornaram Cleópatra à mulher mais famosa do mundo. A localização dos ancestrais da jovem rainha fica a oitocentos quilômetros de Alexandria, na ilha de Filae. Nesta região, durante 300 anos, foram construídos templos dedicados aos XII Ptolomeus. Ptomoleu III foi o ultimo grande faraó da era ptolomáica, reconquistando grande riqueza que havia sido perdida para outras civilizações. Ptolomeu IV foi um grande fracassado que perdera grande parte das riquezas do Egito antigo.
O pai de Cleópatra, Ptolomeu XII, era conhecido como “o tocador de flauta”. O tempo todo ele dava primazia em tocar o pequeno instrumento de sopro, evitando assim, as responsabilidades do governo. Aos dezoito anos de idade, Cleópatra perdeu seu pai. O testamento de Ptolomeu XII dizia que o Egito deveria ser governado por Cleópatra e seu irmão, Ptolomeu. Mas na prática isto não chegou a ocorrer. Os dois brigaram pela disputa ao poder.
O Romance com Julio César
Júlio César, poderoso general romano, acompanhou de perto as desavenças entre Cleópatra e seu irmão, e no palácio de Alexandria, mandou chamá-los para entender melhor a questão.
Fontes antigas nos revelam que Cleópatra chegou até César antes de seu irmão. Enrolada e escondida em um tapete, ela temia ser surpreendida pelo seu irmão. O general romano ficou impressionado com a jovem rainha. Desde então uma atração física começou a dominar o futuro casal.
Cleópatra estava determinada com a idéia de conquistar um grande império, como de Alexandre. O terrível incêndio que destruiu a biblioteca de Alexandria durante um conflito entre egípcios e romanos deixou a jovem rainha profundamente magoada, revelando seu apreço pelos livros, seu maior patrimônio era a inteligência.
Cesar adiou sua volta a Roma e juntou-se a Cleópatra para conhecer melhor o Egito. Decerto, Cleópatra queria impressionar o general romano com a grandeza e principalmente riqueza de seu país. Cleópatra era considerada uma deusa, César como seu acompanhante também era visto como um deus.
Uma Esperança de vida
Foi no cemitério de Sakara que César viu pela primeira vez uma múmia de perto. A crença na vida após a morte e a possibilidade da imortalidade com a preservação do corpo, é uma idéia que pode ter atraído César que já estava envelhecendo. O nobre casal passou por Tebas, Karnak e Luxor, locais de grande admiração do Egito antigo. Durante este longo passeio, César observou também os grandes campos de trigo do Egito, alimento suficiente para alimentar seu exército.
Os restos do templo de Cleópatra podem ser visto em Hermonts. Foi neste local que a democracia romana entraria em declínio.
Cleópatra em Roma
César agora era um deus que teria um filho com Cleópatra. Esta idéia de governar Roma como um deus contaminou os sucessores de César. Era o fim da democracia no senado romano. Cesário, filho de Cleópatra com César governaria um grande império como o de Alexandre. Era uma possibilidade que passou a ser uma obsessão da jovem rainha. Em Roma havia grandes comemorações que aconteciam como desfiles de triunfos. Num triunfo egípcio, Cleópatra presenciou sua irmã, Arsenob acorrentada pelo exército romano, em correntes de ouro.
Cleópatra amava César, não Roma. Arsenob era uma ptolomáica, derrotada por romanos, isto marcaria a vida da jovem rainha para sempre. Mas a esta altura, Cleópatra era o assunto em evidencia de Roma. César ganhou muito dinheiro e comprou muitas casas, construiu um templo com a estátua de Cleópatra e um belo jardim para sua amada. Isto revelava o quanto era verdadeiro seu amor pela rainha do Egito. Já por dois anos em Roma, Cleópatra – aliada ao homem mais poderoso do mundo – tornou-se a mulher mais poderosa do mundo. Parecia certo que seu filho, Cesário, herdaria um império de grandeza similar ao conquistado por Alexandre, o grande. A idéia de eliminar a república romana não agradou nenhum pouco o senado. César foi terrivelmente assassinado por inimigos políticos.
Marco Antônio, aliado do Casal e general de César, expôs ao senado romano que Cesário, filho de Cleópatra era o herdeiro legítimo de César. Otaviano (sobrinho de César) reclamou tal legitimidade. A beira duma guerra civil, Cleópatra voltou para o Egito com seu filho. O país mais rico do mundo estava em declínio econômico e político. Mas Cleópatra utilizou de toda sua habilidade administrativa para melhorar a situação explorando as estradas de comercio (com a extração do Pófiro) e a rota das caravanas, esta última, estabelecida desde a era ptolomáica. A rota das caravanas desempenhava um duplo objetivo econômico, além de abastecer o comercio local, era também a principal mantenedora dos luxos do palácio egípcio.
O romance com Marco Antônio
O general Marco Antônio precisada das riquezas do Egito para vencer seu principal inimigo, Otaviano e conquistar Roma. Ele solicitou um encontro com Cleópatra em Tarsus. Cleópatra aceitou o encontro, porém, de acordo com sua conveniência. Por outro lado, Cleópatra precisava de Marco Antonio para dar continuidade em seu plano de entregar um grande império a seu filho, Cesário. Em Alexandria, Cleópatra já voltou amante de Marco Antonio e grávida de gêmeos. O general partiu para uma batalha e deixou a rainha no Egito. Algum tempo depois, uma carta de Marco Antonio revelava que ele estava com outra mulher e tinha abandonado Cleópatra.
Aos 29 anos, mãe de três filhos pequenos, Cleópatra teve de adiar mais uma vez seus planos quanto ao futuro de Cesário. Foi nesta ocasião, em Dendera, que a rainha dedicou-se intensamente a religião, que no Egito antigo significava basicamente uma transição entre deuses e o faraó. O país teria prosperidade assegurada, desde que esta transição ocorresse de maneira harmoniosa e precisa. Dendera abriga uma imagem de Cleópatra fazendo oferendas aos deuses. Detalhe: normalmente os faraós apareciam em paredes de templos acompanhados de seus maridos ou esposas. Mas Cleópatra não era uma rainha qualquer, seu filho Cesário, é quem aparece ao seu lado.
A volta de Marco Antônio
Marco Antônio voltou tempos depois e pediu um novo encontro com Cleópatra. Ele ainda precisava das riquezas do Egito para vencer Otaviano. A rainha estava com a mente confusa, mesmo com toda dedicação em preparar um futuro prospero para Cesário, Cleópatra tinha sentimentos. Ela fora abandonada prestes a dar vida a dois filhos gêmeos. Mas sua determinação política venceu seus ressentimentos, aceitando assim, um novo encontro com Marco Antônio. Desta vez Cleópatra condicionou as riquezas do Egito a um grande acordo nupcial. Para ela ficou a região de Arnúbia, Chipre, Sinai, Armênia, Norte da África e Fenícia.
Territórios conquistados com o sangue romano tinham sido entregues a uma rainha egípcia. Isto causou fúria em Roma, alimentando com raiva às tropas lideradas por Otaviano que estava preparando um confronto final contra Marco Antonio. Nesta batalha, Otaviano sagrou-se vitorioso. Cleópatra chegou a acompanhar de perto o confronto, mas quando percebeu a eminente derrota de Marco Antonio, fugiu em sua nau capitânia. A rainha seguiu para Alexandria. Marco Antonio não conseguiu acompanha-la e perdeu-se no caminho, caindo em desespero. Cleópatra planejou uma viajem até a Índia, onde fundaria um novo império com sua riqueza. Era sua última chance.
Em Petra, Cleópatra foi surpreendida e suas embarcações (carregadas e prontas para ganhar o mar) foram incendiadas. Marco Antônio, preservando o estilo romano, entregou-se a espada e fora morrer aos braços de sua amada. Já havia uma tumba preparada para Cleópatra. Porém, sua morte faz parte de uma discussão interminável.
A morte de Cleópatra
Muitos textos antigos afirmam que ela tenha sido morta por meio de uma picada de cobra. (resta saber se por uma NAJA, ou uma VÍBORA). A Naja possui um veneno mais letal e sua picada é de difícil identificação. Já a Víbora provoca um inchaço grotesco, e, por esta razão, a morte por meio de uma víbora é descartada por estudiosos.
A morte por meio da picada da naja evitaria a exposição de Cleópatra num triunfo romano, conforme desejo de Otaviano. Cleópatra estava confinada num dos quartos do palácio e, tudo que era levado até ela era inspecionado para evitar seu suicídio. Mas de alguma forma, ela conseguira se matar conduzindo uma de suas mãos a uma “compota” onde uma naja estaria entre os frutos. Quando os soldados romanos de Otaviano entraram no quarto da rainha, ela já jazia morta e vestida com trajes reais. Otaviano nada pode fazer a não ser expor para seu poderio militar um retrato da rainha Cleópatra.
Os dois filhos gêmeos de Cleópatra perderam-se na história. Otaviano matou Cesário, impedindo definitivamente qualquer chance de prosperidade política para o filho da rainha. Alexandria deixou de ser um lugar dedicado ao saber, passando a ser uma mera província romana no Egito. Mas Cleópatra nunca fora esquecida. Ela era a rainha do antigo Egito.
Vacina e rebelião
Revolta da vacina: um protesto contra a indiferença
Tiago Eloy Zaidan
O Brasil do alvorecer do século XX estava infestado de moléstias e epidemias. A miséria e a total falta de higiene apresentavam-se como uma bomba preste a explodir nos cortiços improvisados onde residentes da classe baixa empilhavam-se. Ninguém escapava às mortíferas “senhoras”: peste bubônica, varíola e a febre amarela. Nem mesmo o filho do então presidente Rodrigues Alves. Então o pai resolveu contra-atacar. Dentre as medidas, realce para a vacinação obrigatória contra a varíola. A população, por sua vez, reagiu com veemência nas ruas do Rio de Janeiro. A primeira vista tudo parecia surreal. Por que o povo protestaria contra algo que visa à erradicação de uma perigosa enfermidade?
Em 1902 a capital federal, Rio de Janeiro, representava um país atrasado e um estado com vista turva quando o assunto era política social. À imensa população desamparada, somavam-se numerosas levas de imigrantes, incentivados a vir ao Brasil para servirem de mão de obra – em condições sofríveis – nas plantações paulistas de café. Nas ruas acanhadas do Rio de Janeiro as epidemias fluíam assustando os navios, que preferiam seguir direto para Buenos Aires. Tal situação incomodava os cafeicultores e mesmo os líderes políticos da época, sedentos por atraírem mais imigrantes e, consequentemente, mais mão de obra prosaica. As elites – demasiadamente consideradas pelo poder público nas primeiras décadas do século XX – por sua vez, não escondiam o constrangimento de viverem num ambiente tão diferente das avenidas européias, especialmente as francesas.
É nessa capital – de beleza natural lendária – que o paulista Rodrigues Alves, assume a Presidência da República. Como era de se supor, Alves era um rico cafeicultor. Já havia “passeado” pelo Ministério da Fazenda nos governos de Floriano Peixoto e Prudente de Moraes e também foi gestor de São Paulo, onde ensaiou sua obsessão por reurbanização, abrindo avenidas e construindo redes de esgotos. Agora era a sua vez de ser alçado ao palácio pelos conchavos entre mineiros e paulistas. Junto à Pereira Passos, prefeito do Rio de Janeiro, Alves deu início à revolução urbana da cidade maravilhosa, mas não sem antes estreitar a dependência do Brasil com a Inglaterra, após contrair um empréstimo de oito milhões de libras.

Oswaldo Cruz
A pressa foi uma das marcas da reconstrução da cidade. A outra foi à insensibilidade com os moradores humildes da região. Completamente indiferente às classes baixas, o projeto tinha como principal meta a construção da “afrancesada” Avenida Central (posteriormente rebatizada de Avenida Rio Branco), iniciada em 29 de fevereiro de 1904. Sem nenhuma reparação, uma considerável leva de residentes miseráveis foi varrida do centro do “novo” Rio de Janeiro, que começava a surgir numa área limitada. Os novos imóveis, que margeariam a moderna avenida, deveriam antes passar pelo crivo de uma bancada de “ilustres” da sociedade de então. Dentro de meses a classe alta da capital poderia passear orgulhosa no belo bulevar tropical. Além da Avenida Central, fora reformada a rua do Ouvidor e construída a avenida Beira-Mar.
Dentro da meta de “civilizar” o centro administrativo do país, proposto por Rodrigues Alves, faltava o combate às enfermidades imundas e impertinentes que fustigavam a urbe. Aqui que entrou em cena o então desconhecido Oswaldo Cruz, com sua obstinação permeada por lances autoritários, visando alcançar os seus objetivos. Nascido em 1872, na pequena São Luís do Paraitinga (SP), formou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1896. No Instituto Pasteur em Paris, tornou-se discípulo do sanitarista Émile Roux, que o indicou para o governo brasileiro. Em 1902, de volta ao Rio, assumiu a direção do Instituto Soroterápico Federal, que mais tarde receberia o seu nome. No ano de 1903 é nomeado Diretor de Saúde Pública com “liberdade de ação”. Pela frente, a peste e a febre amarela, com seus ratos e mosquitos, respectivamente. Foram criados batalhões mata-mosquitos com a intenção de pulverizarem locais de risco. Foi o suficiente para a imagem de Cruz tornar-se freqüente nas ilustrações de caricaturistas da época.
Contudo, foi no combate a varíola que os achincalhamentos evoluíram. Com a medida rígida de se vacinar maciçamente a população, por meio da obrigatoriedade – aprovada pelo congresso no fim de outubro de 1904 – foram estipuladas multas e restrições aos infratores, causando maiores reações. O Atestado de Vacinação passou a ser exigido trivialmente, desde a obtenção de um emprego público ao casamento. A falta de habilidade do governo no tratamento da rejeição popular à medida defendida por Oswaldo Cruz agravou a situação. Para se ter idéia da repressão oficial basta citar o episódio do dia 10 e novembro, quando um orador foi preso no palanque por pregar contra a vacina. Após uma série incontável de medidas arbitrárias da república “Café com Leite” (modo como foi apelidada a era das administrações oligárquicas de 1894 a 1930), tornou-se mais fácil enxergar o estado com desconfiança. Entre os dias 11 e 14 de novembro a massa enfurecida saiu às ruas do artificializado centro do Rio de Janeiro deixando um rastro de “postes envergados (...), vidros fragmentados (...), paralelepípedos revolvidos (...), destroços de bondes quebrados e incendiados (...)” e “vestígios de barricadas feitas pela multidão agitada”, proclamou em tom assustado o Jornal do Commercio de 15 de novembro de 1904.
O mesmo jornal relatou casos de mortes durante a revolta. “(...) Um robusto homem de cor, que vestia calça e camisas pretas, achava-se do alto, numa pequena janela, atirando. Ali o alcançou uma bala de carabina que lhe varou o crânio, prostrando-o instantaneamente morto”. É também relatada a história de um menino de 12 anos que, “(...) chegou à janela na ocasião do conflito e logo foi morto por um tiro que lhe varou a carótida”. A vacinação foi suspensa.

Diante das manifestações descontroladas, Tânia Maria Fernandes em seu livro Vacina Antivariólica: ciência, técnica e o poder dos homens – 1808 – 1920, faz saber, “Oswaldo Cruz tinha como característica não se pronunciar publicamente e assim se manteve mesmo diante de todas as críticas sobre sua conduta frente à higiene. Sua resposta ao episódio da revolta da vacina foi colocar o cargo à disposição do Ministro do Interior J. J. Seabra (...)”.
No dia 15 de novembro, quando se deveria comemorar o aniversário da proclamação da República brasileira, cadetes positivistas da Escola Militar de Praia Vermelha aderiram oportunamente ao movimento popular. Desejavam reassumir o controle da nação, perdido para os cafeicultores desde 1894. Todavia, essa rebelião, especificamente, foi debelada e Lauro Sodré – Tenente coronel que seria agraciado com o cargo presidencial – terminou ferido e preso; sorte menos infeliz que as dos 200 cadetes mortos no levante.
O que ocorreu a seguir foi a decretação de estado de sítio de um mês, adicionado às invasões bestiais de tropas governamentais a favelas e cortiços miseráveis, onde foram presos, praticamente à revelia, diversos indivíduos. Muitos desses foram exilados no longínquo Acre, então recém-anexado ao Brasil. A vacinação foi restaurada e, dentro de meses, a varíola foi erradicada da capital federal. Oswaldo Cruz consagrou-se. Convidado a atuar em outras localidades, entrou para a história da ciência em solo tupiniquim. Rodrigues Alves concluiu o mandato, assumiu novamente o posto de governador de São Paulo em 1912 e tornou a eleger-se presidente da república. Alves, entretanto, não chegou a tomar posse. Ironicamente acabou vítima de uma nova e assombrosa epidemia, a gripe espanhola. Morreu em 16 de janeiro de 1919, no Rio de Janeiro “devidamente” urbanizado, porém, indevidamente humanizado.